quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Divagações sobre os 27 anos

Bem, mais um Natal vem e o mundo ocidental pára porque é meu aniversário. Tudo bem que trata-se de um silogismo, mas não deixa de ser uma verdade. Quando eu era criança, imaginava que devia ser alguém importante desde o berço pois havia nascido no dia de Natal, justamente no dia em que o Redentor da humanidade cristã havia descido de melhores paradas para este plano que nós compartilhamos por enquanto.

Não é surpresa que fiquei meio perdido quando comecei a descobrir pessoas que nem eu faziam aniversário na mesma data e levando assim meus ares de megalomania. Mas ainda assim acredito firmemente que somos pessoas de fina estirpe. Tem Mariana, menina doce que agora é senhora casada e estudou comigo no curso técnico. Tem também Patrícia Maria, que nesse dia de aniversário passa pela incrível aventura de gerar uma criança e ainda se formou comigo na faculdade de Medicina neste ano em que completo meu 27º aniversário.

27 anos não é idade pra entrar em crise. Mas levando em consideração que eu me formei e que estou dando meus primeiros passos com minhas pernas, este dia em que completo mais um ano de vida merece o invariável balanço da minha vida. A primeira lembrança que me vem a mente ocorreu há uns quatro anos atrás. Num instante me vi num momento de crise (pra quem me conhece bem, quando é que eu nao estou em crise?); Enfim, eu entrei numa bad trip de que não passaria dos 25 anos e comecei a me desesperar pois tinha a impressão de que bancava a todo instante a Carolina que não viu o tempo passar na janela. Não morri aos 25, mas eu ainda continuo com uma impressão de que planos a longo prazo não são para mim. Exageros à parte, me vejo tomando um rumo na vida. Cresci. Ganhei cicatrizes mas também finalmente me sinto mais vivo. Incrível como viver bem é difícil. Mas a única grande lição que levo comigo é que a graça nisso tudo é aprender sempre a buscar o tal caminho do meio que Buda defende.

Ando meio trôpego nessa jornada, mas feliz por mais que eu reclame e teime em usar cores mais fortes nas nuances negativas da vida. Talvez seja o argumento pra amar desesperadamente aquilo que me é doce e dar a tudo de bom o que me acontece um ar de sublime. Hoje faço aniversário, hoje me sinto messiânico e recomendo a todos que tomem da água dessa fonte. Afinal, se não acharmos que nossa presença aqui é um milagre a vida perde muito da graça. Vivamos então com o sentimento de grandiosidade que se traduza numa coisa já a muito batida e em descrédito: amar uns aos outros como o grande astro deste grande dia ousou dizer que nos ama. Meu xará de dia de aniversário devia saber o que estava dizendo, por minha parte prometo todo o dia achar o tal sentido desse negócio todo. Um grande abraço e até breve.

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Agora um Médico Nefelibata

Para meus raros e diletos leitores, informo com ares de solenidade que virei a poucos dias um recém-formado e que venho me divertindo com as alegrias de ser o médico de família de uma comunidade rural. Expectativas grandes, responsabilidades na mesma medida... Mas satisfação ímpar. Gostoso se apresentar como médico e pelo menos tentar por sonhos de nefelibata em prática.

Por enquanto ja ganhei ovos de galinhas de capoeira (Excelentes para sua mãe fazer bolos, Dr... segundo minha freqüentadora assídua do posto e que me deu este presente), muitas portas abertas e sorrisos de boas vindas! Nas andanças, muitos meninos de pés descalços, mulheres bordando, homens discutindo política de interior, cavalos, vacas, bichos que nao me atrevo a nomear mas que me fazem parar uma consulta porque passam na janela da saleta minúscula que me atrevo chamar de consultório. Estou tendo a chance de me sentir como um menino em viagem para o interior pela primeira vez. Como nao podia deixar de ser, ganhei prejuízos e ojeriza a GM do Brasil (carros da chevrolet nao suportam lama, para meu desgosto...), no entanto nada que tire a empolgação deste dotô nefelibata.

Espero em breve estar contando novas peripécias, impressões surrealistas e com cores vibrantes desta nova fase em que suspiro muito de satisfaçao e digo comigo mesmo copiando Drummond: êta vida besta, meu Deus.

segunda-feira, 31 de março de 2008

Quando o amor vacila

Tem certas coisas que por mais que se queira expressar em palavras para nós, simples mortais, são difícieis. Por isso há poetas que podem fingir a dor que deveras sentem. Pois é, aí vai o relato de um fingidor:


Quando o amor vacila
Maria Bethânia in Maricotinha
Eu sei que atrás deste universo de aparências, das diferenças todas,
a esperança é preservada.
Nas xícaras sujas de ontem
o café de cada manhã é servido.

Mas existe uma palavra que não suporto ouvir
e dela não me conformo.
Eu acredito em tudo,
mas eu quero você agora.

Eu te amo pelas tuas faltas,
pelo teu corpo marcado,
pelas tuas cicatrizes,
pelas tuas loucuras todas, minha vida.

Eu amo as tuas mãos,
mesmo que por causa delas
eu não saiba o que fazer das minhas.

Amo teu jogo triste.
As tuas roupas sujas é aqui em casa que eu lavo.

Eu amo a tua alegria.
Mesmo fora de si,
eu te amo pela tua essência.
Até pelo que você poderia ter sido,
se a maré das circunstâncias não tivesse te banhado nas águas do equívoco.

Eu te amo nas horas infernais
e na vida sem tempo, quando, sozinha,
bordo mais uma toalha de fim de semana.
Eu te amo pelas crianças e futuras rugas.
Eu te amo pelas tuas ilusões perdidas e pelos teus sonhos inúteis.

Amo teu sistema de vida e morte.
Eu te amo pelo que se repete e que nunca é igual.
Eu te amo pelas tuas entradas, saídas e bandeiras.
Eu te amo desde os teus pés até o que te escapa.
Eu te amo de alma para alma.

E mais que as palavras,
ainda que seja através delas que eu me defenda,
quando digo que te amo mais que o silêncio dos momentos difíceis,
quando o próprio amor vacila.